sábado, 6 de março de 2010

PIIGS

Recém findo o reinado de Momo, alguns ainda tentam se recuperar dos excessos cometidos e da falta de preocupação com o futuro, querendo aproveitar vividamente o presente. Passando esse diagnóstico do plano pessoal para o plano internacional, tudo indica que alguns países europeus se encaixariam perfeitamente nesse perfil, os chamados PIIGS.

Depois do sucesso do acrônimo BRIC – que designa as principais e mais promissoras economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China, e que foi formado em alusão à palavra inglesa brick (tijolo) de modo a passar uma idéia de solidez –, novos acrônimos foram surgindo em analogia. O acrônimo que está em maior evidência no momento é o PIIGS – que designa os países europeus que estão apresentando grandes problemas econômicos e financeiros, colocando até mesmo em risco a moeda única européia, o euro. Ele serve para designar Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain), e foi formado em relação à palavra inglesa pigs (porcos) de modo a passar uma idéia de relaxamento, falta de 'limpeza', de retidão.

A grande preocupação com esses países deve-se ao fato de que seus problemas financeiros e econômicos não são apenas problemáticos para seus governos e população, mas por fazerem parte do sistema monetário único europeu, com a adoção de uma moeda comum, o euro, problemas nacionais podem acabar se espalhando e colocando em risco o próprio sistema monetário comum e ruir com a união econômica.

Foi nesse sentido que em 1992, os países da EU, para evitar possíveis desestabilizações macroeconômicas internas que inviabilizassem a adoção da moeda comum, estabeleceram os Critérios de Convergência dispostos pelo Tratado de Maastricht: inflação com teto máximo de 1,5%; déficit público com teto máximo de 3% em relação ao PIB; taxa de juro não superior a 2% da taxa dos três países com as menores taxas de inflação da zona do euro.

Acontece que os PIIGS relaxaram durante esta década (carnaval longo esse, não?) e desrespeitaram todos os limites estabelecidos pelos critérios de convergência, chegando o déficit público grego a atingir 12,6% do PIB, quatro vezes mais do que o permitido.

Déficits elevados e inflação alta sem a possibilidade de desvalorização da moeda nacional (já que a moeda não é mais nacional) podem levar a situação de insolvência, com países impossibilitados de pagar suas dívidas. Nesse caso, devido a existência de uma política monetária única, os remédios a serem adotados para salvar um país acabaram afetando todos os demais, espalhando a recessão e a crise e colocando em risco a existência do regime comum.

A EU exigiu a adoção de ajustes rigorosíssimos por parte desses países e indiretamente deu a entender que poderá dar garantias para que esses países não cheguem à situação de insolvência, o que acabou por acalmar os mercados momentaneamente. Veremos até quando..

2 comentários:

  1. Você no tempo que trabalhou na OMC esteve envolvido nesse caso do algodão? Acha que os EUA vão recuar nos subsidios, ou negociar a situacao pra evitar a retaliação? Parece que eles nao estao muito abalados com as medidas publicadas ate agora, ao que entendi começam a se preocupar com a retaliação nos direitos autorais e industriais, em especial com relacao às patentes de remédios.

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  2. Sim, quando estive lá, participei até da audiência da arbitragem para decidir sobre as retaliações, e o nosso grande objetivo era que as retaliações cruzadas fossem autorizadas.
    Assim, a idéia é atingir setores com lobbies muito fortes como o farmaceutico pro exemplo (Prop. Intelec.) para conseguir realmente cessar as distorções no setor algodoeiro.
    Se não fosse permitida a retaliação cruzada, os EUA iriam simplismente nem ligar.. Agora quando o negócio começa a afetar patentes, a coisa muda de figura.
    Pelo que os jornais estão noticiando, eles estão resistindo bem, vamos ver até onde essa corda conseguirá ser esticada..
    Escrevi um post sobre isso.

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